domingo, 2 de outubro de 2005

Diá-L-Ocos da Internet: Fazer o quê contra o burguês?

Carta Recebida:

Sr. Álvaro Frota.

Permita-meapresentar-me: Silvio Cordeiro, 70 anos, aposentado, trabalhei toda a vida em indústrias sídero-metalúrgicas em serviços de planejamento, não tenho partido político, estive na revolta dos operários da Usiminas em 64, sou testemunha dos fatos, estudo hoje sociologia e filosofia.

Pergunto: qual a razão de que os partidos da esquerda não defendem com um trabalho efetivo o direito dos mais fracos?

Assistimos o Berzoíni colocar velhos em fila durante dias, humilhados, execrados, tristes, chamados de ladrões e não vi um elemento da esquerda lutar ao lado dos velhos, quebrar as portas, interrompeter o trânsito, lutar ao lado de seus avós... Me senti envergonhado. Logo após, durante as greves do INSS, não apareceu uma bandeira da oposição para forçar as portas e obrigar os funcionários a dar um tratamento digno aos milhares de doentes que esperaram durante meses por seus direitos constitucionais. Vi seguranças humilhando senhoras que poderiam ser nossas avós, as funcionárias rindo dos velhos em fila, na canícula... Não te vem à memória os campos de concentração de Hitler?

Sr. Frota: que oposição é essa? Onde estão as barricadas? As marchas não de desvalidos como o MST faz, mas das de seus líderes, dos deputados da oposição, das lideranças sincidais ao lado, de braços dados com a população que sofre? Saiba, senhor Frota, nosso país caminha célere para um impasse institucional. Estamos à mercê de um erário pantagruelesco, a mercê de traficantes, estupradores, ladrões, raptores....

A Câmara é um refúcio de induivíduos condenados como o o presidente do senado que não provou seu domicício eleitoral e mesmo assim os tribunais fizerem ouvidos de mercador ao clamor popular que não houve porque o senhor e os demais líderes das esquerdas não tiveram a coragem de arrostar o governo?

Você, o Zé Maria de Almeida se escondem quando mais o povo precisa de vocês à frentre de seus direitos e para mostrar a eles suas obrigações?

Atenciosamente,

Silvio Cordeiro.

Carta Resposta:

Rio de Janeiro, 1 de outubro de 2004.

Prezado Sílvio Cordeiro:

Respondo sua carta apenas em meu nome e em nome do partido do qual sou militante, o PSTU. Esclareço apenas que não sou dirigente de tal partido e, dessa forma, não tenho poderes para escrever um posicionamento oficial sobre esse assunto. Mas sendo a construção de meu partido baseado no método do centralismo democrático, a permanente busca de uma compreensão comum da realidade e das tarefas para a transformar, a unidade de ação baseada no direito de crítica, creio que minha resposta reflete substancialmente a visão partidária.

Por que o PSTU não teve coragem de lançar barricadas e arrostar o Governo Lula da Silva? Porque não se trata de coragem, prezado Sílvio. Sozinhos, nós simplesmente não temos forças para tanto. Unidos com todos os que não se venderam ao imperialismo, talvez tivéssemos, mas nós não conseguimos ainda forjar tal unidade, embora estejamos tentando. O prezado Sílvio, como sociólogo, sabe que fazer política não é apenas uma questão de vontade, mas de capacidade de forjar determinadas engenharias sociais e que o resultado de uma determinada atuação política não depende apenas disso, mas principalmente da força total que tais engenharias contém em seu movimento.

Onde estamos nos escondendo? Simplesmente não estamos nos escondendo. Ao contrário, em cada mobilização ou luta sindical ou popular onde há um militante do PSTU, esteja certo de que esse militante está tentando, de forma a mais árdua que lhe é possível, com todos seus erros e acertos, defeitos e virtudes, desempenhar um papel positivo, que leve à vitória de tais processos de revolta, ainda que vitórias parciais. Todavia, não temos superpoderes, somos apenas seres humanos e, embora nossa influência seja muito maior do que nosso número e nossa atuação tenha sido decisiva em vários momentos para essa ou aquela mobilização, simplesmente não temos ainda massa crítica para desencadear processos amplos de revolta e luta, ou até mesmo para liderar efetivamente os processos de revolta e luta que expontaneamente surgem, globalizando-os e direcionando-os contra o Estado burguês numa luta decisiva.

Ao contrário do nos escondermos, estamos praticando no dia a dia o "fazer revolução". Estamos ativamente preparando o futuro. Assim, o fato do prezado amigo não estar percebendo nossa atuação decorre do tamanho limitado de nossas forças como também da amplitude e profundidade de observação de que o senhor dispõe.

O fato é que a traição do PT acarretou um efeito proporcional à importância que esse partido já teve para a classe trabalhadora e o povo pobre deste país. Enfraqueceu consideravelmente as forças da classe trabalhadora brasileira, já antes enfraquecidas tanto pela conjuntura internacional pós queda dos Estados Operários como pela terceira revolução industrial que levou a automatização dos processos e a consequente redução da necessidade de mão de obra não especializada e, também, pela ofensiva ideologica do neoliberalismo e do neoconservadorismo.

Antes da eleição de Lula da Silva, o PT, com suas bravatas pró-povo e capitulação pró-elites, engendrava uma determinada correlação de forças entre as classes sociais no Brasil, a qual já não era muito favorável às classes trabalhadoras. A eleição do PT para o Governo Federal representou um salto de qualidade nessa situação. Com a efetiva e real traição de milhares e milhares de militantes sociais, cooptados pelo aparelho de Estado em diversos níveis, inclusive no nível máximo de presidente da nação, a correlação de forças, num primeiro momento, deteriorou-se, o que permitiu às classes dominantes a imposição de grande parte da agenda de privatização do Estado e de recolonização da nação anteriormente impulsionada por FHC e seus aliados. Hoje o Brasil é mais escravo do Imperialismo, especialmente o Imperialismo estadudinidense do que o foi quando o gerente deste quintal era Fernando Henrique.

Por tudo isso, vivemos hoje um segundo momento. Amplas camadas do povo brasileiro e da classe trabalhadora já começam a se aperceber de tal traição. O que ainda não foi amplamente percebido, entretanto, foi que traição do petismo não decorreu da estatura ou da força moral que porventura a direção do PT teve um dia, mas sim da estratégia política desse partido. A democracia burguesa, na definição de Lenin, é o regime político no qual os eleitores tem o direito, de quatro em quatro anos, de escolher a equipe política que irá oprimir e explorar o conjunto do povo, administrando o Estado de uma determinada Nação. Dessa forma, a estratégia do PT de conquistar o Estado pela via de gradual acúmulo de força eleitoral levou a que, no que aparentava ser o ápice dessa estrégia, apenas se revelasse sua completa falência. Ao invés do PT conquistar o Estado brasileiro, este conquistou aquele. Visando o poder, Lula tanto se curvou que hoje não passa do "operário padrão" o encarregado que melhor trabalha para o patrão. E o patrão, no caso, são os bancos estadunidenses e europeus.

No âmbito da esquerda brasileira, mas fora do âmbito daquela autoproclamada "esquerda" que se vendeu ao aparelho de Estado, são poucos os que, como o prezado amigo e também o PSTU, se aperceberam de que o país de fato caminha para um impasse institucional. Nossa missão partidária, em decorrência, é ser um instrumento da memória histórica da classe trabalhadora, procurando fazer com que na prática política da luta sindical, da mobilização popular e nos processos eleitorais, os trabalhadores deste país cheguem à conclusão de que a única estratégia viável e possível para a superação de tal impasse institucional que se avizinha é a paciente e perseverante construção da Revolução Socialista, com tudo o que isso significa.

A categoria Revolução existe em nossa análise de conjuntura em decorrência da existência desse processo na realidade econômica, social e política ela mesma. No espectro partidário da assim chamada "esquerda", no espaço existente entre o PSTU e o PT, praticamente nenhum agrupamento se apercebeu de que se avizinha uma situação limite. O PSOL, para citar um exemplo, reune muitos dos que saíram do PT em protesto contra a traição global desse partido, com outros que já estavam fora desse partido, e com outros ainda que antes estavam no próprio PSTU, em torno de uma estratégia política que simplesmente elude da análise a possibilidade de uma Revolução Socialista. Tais companheiros, embora honesta e sinceramente se situem no campo da classe trabalhadora, se recusaram taxativamente até mesmo discutir tal possibilidade conosco e nos excluiram unilateralmente do processo de construção partidária em que se encontram empenhados.

Assim, encontramo-nos sozinhos no processo eleitoral, no qual procuramos arregimentar mais forças para prosseguir em nossa estratégia política central: contruir através da luta, da experiência concreta de todo um povo, as condições no presente que favoreçam a Revolução Socialista que se configura, em temos e em prazos Históricos, algo inevitável.
Por isso é que tomo a liberdade de chamá-lo a vir conosco. Não apenas apertando duas teclas, o 1 e o 6 e depois a tecla verde em um computador no próximo domingo. Computador de onde, se não houver fraude eletrônica, sairão os políticos legalmente escolhidos pelo povo para continuar a opressão e a exploração desse mesmo povo em nível municipal. Apertar o 1 e o 6, embora seja quase um gesto simbólico, é compreender que o slogam "Contra burgués" vai muito mais além do que o processo eleitoral propriamente dito. Trata-se da disputa do poder, mas não do poder mesquinho e corruptor, mas do poder de fato, do poder necessário para solucionar a atual disjuntiva que resume a humanidade: Socialismo ou Barbárie.

Aquele Abraço!

Álvaro Frota
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Paz entre nós! Guerra aos senhores!
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